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Acne, Dermatite Seborreica e Cuidados com a Pele

18 dez. 2025
Desenvolvimento
Saúde

Acne Vulgar

Definição e Epidemiologia
A acne vulgar é uma doença inflamatória crônica da unidade pilossebácea, caracterizada pela formação de comedões (lesões de retenção) e lesões inflamatórias (pápulas, pústulas, nódulos e quistos) principalmente na face e tronco superior. É extremamente comum na adolescência – cerca de 15% dos adolescentes apresentam acne suficientemente severa para buscar tratamento médico. No entanto, pode afetar todas as faixas etárias a partir do nascimento: existe acne neonatal e do lactente, bem como pode persistir ou surgir na idade adulta jovem e mesmo além dos 30-40 anos em alguns casos. A prevalência é semelhante em ambos os sexos durante a adolescência, embora os rapazes tendam a apresentar formas mais graves nodulo-císticas na juventude, enquanto nas mulheres é comum persistir acne de padrão hormonal na vida adulta.

Etiopatogenia
A fisiopatologia da acne é multifatorial e envolve quatro fatores chave inter-relacionados:

  • Hiperqueratinização folicular: proliferação e descamação alterada do epitélio folicular, levando à obstrução do folículo pilossebáceo e formação de comedões (pontos negros e pontos brancos).
  • Hiperssecreção sebácea: produção excessiva de sebo pelas glândulas sebáceas, sob influência androgénica (particularmente relevante na puberdade e em quadros de hiperandrogenismo).
  • Proliferação bacteriana: presença e atividade da bactéria comensal Cutibacterium acnes (anteriormente Propionibacterium acnes) dentro do folículo obstruído, contribuindo para inflamação local.
  • Inflamação: resposta inflamatória imunológica do organismo ao conteúdo folicular (incluindo ácidos graxos do sebo e componentes bacterianos), resultando nas lesões inflamatórias características (pápulas, pústulas e nódulos).

Fatores genéticos podem predispor à acne, e fatores externos como estresse, cosméticos comedogênicos e certos medicamentos (por ex., corticoides sistémicos, androgénios, lítio, alguns anticonvulsivantes) podem agravar o quadro. Dieta de alto índice glicémico e lacticínios têm sido sugeridos como possíveis agravantes em alguns estudos, mas a evidência permanece inconclusiva – recomenda-se, em geral, uma dieta equilibrada saudável. É importante salientar que a acne não é causada por má higiene; ao contrário, limpeza excessiva ou esfregaço vigoroso da pele pode piorar a irritação.

Classificação Clínica
Clinicamente, a acne pode ser classificada de acordo com o tipo de lesão predominante e a gravidade. Tipos de acne:

  • Acne comedónica (não inflamatória) – predomínio de comedões abertos (pontos negros) e fechados (pontos brancos/microquistos).
  • Acne papulopustulosa (inflamatória) - presença marcante de pápulas eritematosas e pústulas purulentas.
  • Acne nódulo-cística – lesões profundas, nodulares e císticas; pode ocorrer confluência de cistos com abcessos e trajetos fistulosos (forma conglobata).

Grau de gravidade: normalmente graduada em ligeira, moderada ou grave com base no número de lesões, tipos de lesão e extensão das áreas afetadas. Por exemplo, considera-se acne leve aquela predominantemente comedónica ou com poucas pápulas/pústulas; acne moderada quando há número significativo de lesões inflamatórias; e acne grave quando há numerosos nódulos/cistos, lesões confluentes ou risco de cicatrizes. Critérios quantitativos, como os do NICE, definem acne moderada-grave quando há ≥35 lesões inflamatórias ou ≥3 nódulos ativos. A presença de cicatrizes de acne indica um histórico de inflamação intensa/prolongada e é um critério de gravidade importante.

Diagnóstico e Avaliação
O diagnóstico de acne é clínico, baseado na inspeção das lesões cutâneas típicas. Deve-se realizar uma anamnese e exame cuidadosos, incluindo história familiar de acne, duração e evolução, tratamentos prévios e seu resultado, uso de cosméticos ou medicamentos desencadeantes, e impacto psicossocial (a acne pode afetar severamente a autoestima e estar associada a ansiedade ou depressão). Classificar a acne do paciente quanto ao tipo e gravidade das lesões é útil para guiar o tratamento.

Impacto Psicossocial
Reconhece-se que a acne, sobretudo em adolescentes, pode ter um impacto psicológico importante, contribuindo para baixa autoestima, isolamento social, ansiedade e depressão. Deve-se questionar ativamente o paciente sobre sintomas emocionais e, se presente sofrimento significativo (por exemplo, ideação suicida, depressão grave), considerar apoio psicológico/psiquiátrico paralelo ao tratamento dermatológico. A educação do paciente e familiares sobre a natureza da doença (fatores que não causam acne, tempo necessário para melhoria, etc.) ajuda a alinhar expectativas e melhorar a adesão ao tratamento.

Tratamento da Acne
O manuseamento terapêutico da acne baseia-se na gravidade do quadro, na idade do paciente e em considerações de sexo/estado fisiológico (por ex., gravidez). Em todos os graus de acne, combinam-se medidas gerais de cuidados da pele com tratamentos farmacológicos tópicos e/ou sistémicos dirigidos aos mecanismos patogénicos relevantes. O objetivo é controlar lesões ativas, prevenir cicatrizes e minimizar o impacto psicossocial.

De forma simplificada, a abordagem pode seguir um protocolo escalonado:

  • Acne leve (comedões ± poucas pápulas/pústulas).
  • Acne moderada (lesões inflamatórias numerosas, algumas profundas).
  • Acne grave (nódulo-cística, cicatrizes, resistente).

Após controlo da acne ativa, pode ser necessário manter uma terapêutica de manutenção para evitar recidivas, especialmente em pacientes com história de acne severa. Nem todos precisarão de manutenção contínua – alguns mantêm remissão após término do tratamento. Em pacientes com tendência a recorrência, recomenda-se manter cuidados da pele adequados e, ao menor sinal de nova atividade, reintroduzir agentes tópicos. Acne é por vezes uma condição crónica intermitente que exige monitorização periódica até sua resolução espontânea (geralmente no início da vida adulta).

Considerações particulares por Idade e Sexo na Acne:

  • Recém-nascidos (acne neonatal), 
  • Lactentes (acne infantil, ~3–18 meses), 
  • Crianças pré-púberes (1–7 anos),
  • Adolescentes (puberdade 12+ anos),
  • Adultos jovens (20-40 anos),
  • Gravidez,
  • Acne e síndrome do ovário policístico (SOP),
  • Manutenção e alta.

Dermatite Seborreica

Definição e Epidemiologia
A dermatite seborreica (DS) é uma dermatose inflamatória crónica, não contagiosa, que acomete áreas ricas em glândulas sebáceas – principalmente o couro cabeludo, face (zona centrofacial) e parte superior do tronco. Caracteriza-se por lesões eritemato-descamativas, de limites bem demarcados, com descamação característica amarelada e oleosa (aspecto gorduroso) sobre a pele avermelhada. Quando a descamação é fina e difusa no couro cabeludo sem muita inflamação, refere-se popularmente como caspa, que é considerada uma forma leve da dermatite seborreica.

A DS apresenta um padrão bimodal de incidência, com dois picos de ocorrência: lactentes, adolescentes e adultos jovens.

Estima-se que até 3-5% da população adulta tenha DS clinicamente significativa. É mais comum em homens, que tendem a ter quadros mais intensos, possivelmente devido a níveis androgénicos mais altos influenciando a produção sebácea. Fatores de agravamento incluem stress físico ou emocional, clima frio e seco (no inverno há piora, enquanto no verão e com exposição solar costuma melhorar). A dermatite seborreica não é simplesmente “pele oleosa” ou alergia a gordura, mas o stress e condições meteorológicas podem modular a inflamação.

Patogénese
A causa exata da dermatite seborreica não está completamente esclarecida. Sabe-se que não é simplesmente uma hiperprodução de sebo, embora a presença de glândulas sebáceas ativas seja necessária para sua manifestação (não ocorre em áreas com poucas glândulas).

Quadro Clínico e Diagnóstico
Manifestações clínicas em adolescentes/adultos: lesões típicas da dermatite seborreica são placas ou máculas eritematosas bem delimitadas, com escamas finas ou espessas de cor branca-amarelada e aspecto oleoso. As lesões podem coalescer em áreas maiores.

Manifestações em lactentes (dermatite seborreica infantil): geralmente inicia entre 2 semanas e 3 meses de vida, raramente após 1 ano.

Diagnóstico diferencial da dermatite seborreica: dermatite atópica, psoríase, infecções fúngicas (tinha), candidíase de dobras, eritrasma, dermatite de contato irritativa/alérgica, rosácea, sífilis secundária, outras condições do lactente (imunodeficiência subjacente, Histiocitose de células de Langerhans).

Tratamento da Dermatite Seborreica
A dermatite seborreica tem um curso crónico-recorrente; não existe cura definitiva, mas é possível controlar os sintomas e prolongar remissões. O tratamento visa reduzir a descamação, o eritema e o prurido, além de prevenir recorrências. Grupos distintos com abordagens específicas:

  • Lactente com DS (crosta láctea),
  • Criança pós-lactente,
  • Adolescente/Adulto:
    • DS leve (caspa isolada ou placa discreta na face),
    • DS moderada (descamação e eritema visíveis, prurido) no couro cabeludo e/ou face,
    • DS grave/extensa (resistente)

Prognóstico e Seguimento
A dermatite seborreica é crónica e recorrente, mas benigna. Nos lactentes, geralmente desaparece completamente até cerca de 1 ano de idade sem deixar sequelas. Nos adolescentes e adultos, tende a oscilar em períodos de melhoria e piora ao longo dos anos. Com o avançar da idade, muitos notam atenuação dos sintomas (pós 50-60 anos pode tornar-se menos ativa).

O manuseamento a longo prazo foca-se em manutenção. Não há complicações graves da DS, mas complicações cosméticas/psicológicas podem ocorrer – descamação visível em sobrancelhas ou ombros pode causar constrangimento. Reassegurar e orientar tratamentos cosméticos (p.ex., loções capilares para disfarçar descamação após uso do medicamento, etc.) pode melhorar a qualidade de vida. Por fim, educar que, embora não haja cura permanente, o controlo é possível e que a aderência ao tratamento intermitente mantém a dermatite seborreica sob bom controle na maioria dos casos.